sexta-feira, 25 de março de 2016

Inversão de abordagem

A mando de Nietzsche e Schopenhauer, Deus parecia ser pior que o Hitler aos meus 15 anos. De um modo geral, a filosofia trata do amor, da vida, do sonho e de outras esferas particulares que não dizem respeito para com a conjuntura política. Durante muito tempo, acreditei que Deus tinha a função de silenciar a crítica, perpetuar a riqueza ilegal de certos setores da sociedade, ampliar a pobreza e sublevar a hipocrisia. O criador, segundo muitos acadêmicos de esquerda, foi inventado para apaziguar uma angústia com relação a uma dificuldade psicológica em aceitar a própria realidade mendicante. Deus era um tranquilizador de modo que a perpetuação da pobreza se mantinha mais forte, mais viva.

Essas ideias pairavam na minha cabeça. Eu depreendia que havia muita sujeira na esfera religiosa. No entanto, Deus nada tinha a ver com padres pedófilos, guerras santa, roubos etc; concluí depois de um tempo. À época, a coisa fazia tanto sentido que eu não dissociava Deus dos homens religiosos canalhas que maculam a palavra. Desafiar uma possível entidade que está acima de todos era revolucionário, libertário e que seguia e segue a retórica de criar para todos e por um mundo melhor. Assim sendo, fatalmente me tornei de esquerda sem considerar, por exemplo, que se Deus comportasse a função de extirpar o questionamento, como poderia um ser humano residir a habilidade para desafiá-lo enquanto existência? E quanto ao fato de abrandar? As guerras religiosas estão aí desde que o mundo é mundo.

A princípio, certos argumentos soavam inteligentes. O problema é que tudo gira de acordo com a orquestra política. A filosofia não deve emanar antes da política. Precisamos antes conhecer o que é o comunismo, o nazismo, o fascismo e outros ideais a fim de que saibamos usufruir Nietzsche e Schopenhauer com perspicácia na abordagem. Outra especificidade importante, o ódio à classe rica só pelo fato de ela ser rica, pois bem, me estimulava para com o fato de eu não trabalhar. Eu me arrisco a dizer que a culpa não foi necessariamente dos filósofos citados, e sim da minha não identificação, da minha não leitura, e do fato de eu não conseguir enxergar o verdadeiro inimigo.

Para os autores alemães, Deus não era a religião em si. O todo poderoso representava uma crítica a quem pensa igual. Os intelectuais não estavam criticando o Deus da Bíblia, e sim a uniformização de pensamento; algo que eu estava cada vez mais imerso por agir com impulsão. Nietzsche, só para citar uma ideia, promulgava que devemos produzir algo que está além da nossa capacidade. Portanto, como posso ser contrário ao trabalho? Como posso almejar liberdade sem lutar pela minha independência? Todo adolescente que lê filosofia antes da política, torna-se, e isso é evidente, amante dos regimes mais cruéis se achando o mais culto dentre os idiotas. Talvez já tenha ficado claro que obviamente , e, de acordo com o que preludiei no início, o Estado mínimo jamais existiria como opção.

Para encerrar, hoje noto o quão importante é a distinção do certo e do errado, de Deus como auxílio para a nossa superação, e, principalmente, de que a ordem dos fatores altera demasiadamente o produto. Primeiro a política. A tristeza maior é que boa parte dos leitores de filosofia se submete a isso e, sim, passa a vida sem se dar conta de que a forma como age enquanto unidade de pensamento está completamente equivocada. Em suma, Deus existe para que o homem siga o fluxo de sua própria superação. Não discuta Deus, e sim honre a lógica dentro da própria realidade.

Daniel Muzitano

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