sexta-feira, 1 de abril de 2016

Resumo das Eleições Presidenciais Americanas - Republicanos

Nessa altura do campeonato, você já deve ter ouvido falar os nomes Donald Trump e Ted Cruz. Pois é. Hoje a disputa republicana está dividida entre esses dois nomes[1]. No entanto, você não deve ter ouvido falar bem de ambos, a mídia brasileira vem lhe apresentado esses nomes desta forma: um magnata louco, populista, racista, xenófobo e sexista (contra) um “ultraconservador” que possui, basicamente, as mesmas propostas. Não seria novidade informar a você que essas afirmações são falsas, afinal nada poderia ser diferente vindo da imparcialidade dos nossos jornalistas. Assim sendo, quem é Donald Trump? Quem é Ted Cruz? Quais são suas propostas? O que eles diferem um do outro? Quem tem mais chances de vencer? Como a corrida republicana se encontra hoje? Bem, pretendo responder a tudo isso nesse breve artigo.


Donald Trump é um magnata bilionário, investidor, que já foi o apresentador de “O Aprendiz” e hoje está tentando ser presidente dos EUA. Nova-iorquino, filho de um americano com uma escocesa, seus avós foram imigrantes alemães; apesar de empresário, Trump sempre foi ativo na política, financiando primeiramente políticos oriundos do Partido Democrata. Após um certo tempo, Trump mudou suas posições e começou a financiar campanhas de candidatos de ambos os partidos (democrata e republicano).

Muitos acreditavam que Trump um dia iria se tornar um político, por conta da sua assiduidade no tema. Uma curiosidade que poucos sabem: Donald Trump se recusou a concorrer à presidência pelo Partido Republicano nas primárias de 1988. Em 2000, quase saiu candidato à presidência pelo Partido Reformista dos EUA, apesar de sua campanha não conter nada de conservadorismo (Trump era pró-escolha em matéria de aborto, e era abertamente a favor de um sistema de saúde universal, no estilo Obamacare).


Paralelo a estes acontecimentos, um brilhante jovem acadêmico, filho de imigrantes cubanos iniciava sua carreira na vida política. Ted Cruz, nascido no Canadá e radicado no Texas, já havia sido vice procurador-geral adjunto no Departamento de Justiça americana e conselheiro de políticas domésticas para o presidente George W. Bush durante as eleições de 2000 quando decidiu concorrer a um primeiro mandato como Senador. Após vencer as primárias com facilidade dentro de seu partido, Ted Cruz derrotou com mais da metade dos votos o candidato democrata Paul Sadler.

Cruz é um dos políticos mais conservadores do senado e um dos mais odiados pelos seus colegas também, haja visto sua irredutibilidade em matérias como controle de armas, medidas pró-aborto, imigração e gastos por parte do governo.


As campanhas de Ted Cruz e Donald Trump nessa corrida presidencial, contudo, refletem propostas que são necessárias para conter os problemas que os EUA estão passando no momento. Apesar de seus históricos diferentes, ambos procuraram adequar suas posições (ambos mudaram muito de suas posições no passado) para atender as necessidades dos eleitores. Na circunstância atual do partido republicano, das eleições, do clima corrente no partido democrata e do estado de espírito do povo americano, vemos os seguintes fenômenos:

·        -  Um descontentamento em relação à política externa de Barack Obama (partido Democrata);
·         - Uma reprovação e um medo condensado da população em relação ao terrorismo e as políticas imigratórias; 
·         - Uma crise social e econômica que assume diferentes níveis de acordo com a região do país, impulsionando a importância de líderes políticos do partido republicano e suas ideologias;
·         - Uma crise política em relação à reprovação de candidatos que são políticos tradicionais;
             - Reprovação dos americanos em relação aos Democratas pela consequente ineficácia de programas populistas propostos por eles.

Apesar de ambos os pré-candidatos adequarem suas posições aos problemas acima, eles divergem em muitos pontos.

Veja essa tabela comparativa veiculada pelo jornal Extra[2]:

IMIGRAÇÃO: O tema é o carro-chefe da campanha de Donald Trump, que promete construir um muro na fronteira com o México e deportar cinco milhões de imigrantes ilegais. Já Cruz defende reforços intensivos nas fronteiras e quer reverter a ação executiva de Barack Obama, que protegeu da deportação milhões de imigrantes ilegais no país. “Acho que um caminho para a cidadania é extremamente injusto com os milhões de imigrantes que seguiram as regras”, diz o senador, filho de um exilado cubano que obteve cidadania em 2005. (Cruz também propôs construir um muro na fronteira com o México).

SAÚDE: Para o senador texano, o Obamacare é “a lei mais detestada do país”, e o Congresso deve “rejeitá-la por completo”. Já Trump classifica o programa como “um completo desastre”, mas, no passado, já se definiu como “um liberal na saúde”, defendendo um sistema semelhante ao do Canadá. “São tempos diferentes, e eu evoluí em relação a esse tema”, diz o magnata (para justificar sua mudança).

DIREITOS LGBT: Cruz afirma que cristãos são alvo do “fascismo liberal” (liberal = progressita), e diz que os EUA precisam de “líderes que defendam os valores judaico-cristãos que formaram o país”. Enquanto muitos republicanos diminuem ou abandonam sua oposição ao casamento gay, o senador faz questão de enfatizá-la, afirmando tratar-se de “uma prioridade”. Trump também afirmou ser contrário ao casamento gay, mas diminuiu a importância do tema após a decisão da Suprema Corte que liberou os casamentos homossexuais em todo o país.

AÇÕES MILITARES: Trump afirma ter sido o único entre os republicanos a se posicionar contra a guerra no Iraque, e diz não ver problemas nas ações da Rússia na Síria, desde que os EUA possam tomar o controle do petróleo local, mas acredita que os EUA não deveriam se envolver no conflito ucraniano. “Temos que ser espertos. Não podemos ser a polícia do mundo”, afirma. Já Cruz acredita que os EUA devem armar as milícias curdas contra o Estado Islâmico, assim como forças ucranianas contra a Rússia.

NEGÓCIOS: Trump diz que trará de volta empregos que foram levados a outros países (iria encerrar a Parceria Transpacífico – TPP, por exemplo), e que reduzirá os impostos corporativos a 0%. O magnata se mostrou contrário ao aumento do salário-mínimo, afirmando que a medida “mataria a competitividade do país”. Já Cruz promete reduzir impostos corporativos a 15%, e defende o fim de subsídios federais para companhias de energia, além de prometer que irá abolir o IRS, a agência do Departamento do Tesouro responsável pela coleta de impostos (uma espécie de Receita Federal).

Podemos perceber que Trump e Cruz se diferem muito em suas posturas. E em muitos pontos Trump se parece mais com um democrata. Como escreveu o jornal Info Money, uma vez[3]:

Existe um candidato à presidência nos Estados Unidos que quer acabar com as mordomias dos "muito ricos". Ele é contra acordos comerciais que permitem a existência de companhias estrangeiras que realizam trabalhos quase escravos e ainda tiram empregos dos americanos. Ele quer planos de saúde universais e também apresenta um projeto de diversas mudanças para o país, o que pode custar bilhões de dólares em impostos.

É provável que a primeira pessoa que tenha vindo em sua mente seja o democrata Bernie Sanders. Mas, na verdade, estamos falando do republicano Donald Trump. Pode soar estranho, mas o megaempresário tem uma mistura muito interessante de pontos de vista econômico, refletindo um estilo populista, combinando posições bastante conservadoras com muitas ideias que caminham junto com a esquerda política.

Desde 1972, com Richard Nixon, que o partido republicano não tem um candidato que se afaste do conservadorismo econômico. Apesar de ainda estar longe de ser como Nixon, Trump se mostra praticamente um liberal em um momento onde a maioria dos republicanos se tornam cada vez mais conservadores quando o assunto é economia.

Em seus discursos, Trump tem reforçado um ataque a empresas como seguradoras de saúde e fabricantes de medicamentos, que segundo ele têm influências cancerosas em Washington e que usam seu dinheiro para comprar votos. Hoje, grande parte dos políticos possuem dívidas com estas companhias, incluindo seus adversário presidenciais republicanos.

Se por um lado Trump diz que favorece o "livre comércio", ele culpa as práticas desleais de países estrangeiros como a China que estariam "roubando" os empregos de americanos. Para se ter uma ideia, Sanders, que se diz socialista democrata, tem repetido o mesmo argumento, votando sempre contra os acordos comerciais durante sua carreira em Washington.

No atual momento, porém, Donald Trump lidera tanto na contagem de delegados, quanto nas pesquisas e noto popular. Trump conta com 752 delegados, quase 300 a mais do que Ted Cruz. Além disso, Trump tem mais de 2 milhões de votos (voto popular) a mais do que Cruz. Apesar desses números, a candidatura de Trump é incerta. Para garantir a nomeação antes da convenção do partido, é necessário conseguir um número de 1237 delegados. Se Trump não chegar à meta, ocorre a chamada “convenção disputada”: uma segunda votação que descarta a decisão das urnas, optando entre os que obtiveram representatividade nas prévias. 


No dia 5 de abril, somente o Estado de Wisconsin realizará primária. Wisconsin é considerado um "Estado azul", e disponibilizará 42 delegados distribuídos de forma que o vencedor leva todos. Ted Cruz está liderando todas as pesquisas e, além disso, recebeu o apoio do ex-candidato presidencial e atual governador Scott Walker, o homem que conseguiu consolidar sua liderança entre os republicanos por lá.

É muito significativo essa liderança de Ted Cruz num "Estado azul". Até então, o candidato Donald Trump, como reportou o New York Times, liderava por uma vantagem esmagadora entre os eleitores republicanos desses Estados, sendo que ou está perdendo ou empatando em alguns outros bem significativos como, por exemplo, o da Califórnia.


Mapa de Estados azuis e vermelhos
Se Ted Cruz conseguir mais vitórias em Estados azuis, isso provará que ele é o candidato certo para o Partido Republicano. O motivo: os Estados azuis são os mais importantes nas eleições gerais de novembro, e os republicanos sempre perdem neles – e isso custa caro: mais 4 anos de domínio democrata no poder executivo.

A ausência de Donald Trump na liderança também pode refletir um novo "momentum" de Ted Cruz. Cruz que está numa briga suja com o magnata (ambos já veicularam anúncios depreciativos e mentirosos até sobre as prováveis primeiras-Damas), e, apesar de estar jogando baixo em sua campanha de um modo cínico, Trump está declinando nas pesquisas, pois Cruz é bem mais sutil em seus “dirty tricks”.

Trump, contudo, vale ressaltar, continua muito distante de Cruz. Mesmo que perca estas primárias, ele ainda continuará com 247 delegados à frente. A disputa entre ambos ainda vai durar até agosto, quando ocorrerá a convenção. Ainda há 17 primárias para acontecer e 811 delegados para serem distribuídos, a tendência é o jogo ficar mais acirrado e emocionante. Creio que todos esperam, contudo, que a qualidade dos debates melhorem para que as ideias possam ser transmitidas sem distorções da grande imprensa.

Lucas Carneiro Costa




[1] John Kasich, ex-governador de Ohio, também está na disputa, mais suas chances são pequenas.
[2] http://republicanosem2016.blogspot.com.br/2016/03/as-posicoes-que-separam-trump-de-cruz.html
[3] http://republicanosem2016.blogspot.com.br/2016/02/conservador-donald-trump-consegue-ser.html

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