quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cale sua boca, Paulo Freire!

Por Gabriel Silva Corrêa Lima



Não nos é novidade o pessimismo generalizado que se possui a respeito da educação brasileira acerca das novas estatísticas que nos rebaixam à sexagésima colocação no ranking de desempenho educacional internacional, dentre setenta e seis colocados. Não nos é novidade que as condições de infraestrutura das instituições de ensino estaduais nos são precárias, e que muitas de nossas periferias encontram-se marginalizadas à calamidade pública, pela administração incompetente de um estado monopolista.
Agora, se possuímos um fator agravante a se analisar, há de se visar quais são as causas que motivaram a queda de desempenho de nossas instituições. Todo processo educacional necessita de métodos e metodistas, talvez até de um patrono, e o nosso recente, o maior ministro da maior horda de imbecis que as duas últimas gerações brasileiras jamais poderiam imaginar, é o “célebre” tutor Paulo Freire.
Quando se é pronunciado o tão aclamado e consagrado nome do mestre Freire, tem-se a ovação de uma camada universitária massiva, ansiosa a espelhar-se em seus ensinamentos e reproduzi-los às novas gerações de pupilos alegres.
Sendo tomados como exemplos, seus exemplos metodológicos, como os da Pedagogia do Oprimido, foram seguidos ao construtivismo e por novos métodos de dinâmica de sala de aula. Possui-se o resultado agora retratado, mas por quê? Não seremos vagos em crítica.
Digamos que tomando a ideia da educação libertadora, e Pedagogia do Oprimido, a índole marxista torna-se notória e óbvia até pela pesquisa mais rasa, até mesmo pela Wikpédia. Quando se tenta transferir a luta de classes para o âmbito da educação, vê-se que o professor é tratado como opressor e o educando como oprimido, em um cenário cujos ensinamentos são passados de forma alienante, onde o aluno não possui autonomia para estabelecer discernimento próprio da realidade que o cerca. Portanto, partindo desse ponto de vista tão semelhante à Mais Valia marxista (conceito há muito superado e destrinchado, e que só possui sustentação graças à típica ignorância brasileira), transfere a função do professor à de mero orientador.
“Na verdade, como mais adiante discutiremos, a razão de ser da educação libertadora está no seu impulso inicial conciliador. Daí que tal forma de educação implique na superação da contradição educador educandos, de tal maneira que se façam ambos, simultaneamente, educadores e educandos. Na concepção ‘bancária’ que estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar- se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da ‘cultura do silêncio’, a ‘educação’ ‘bancária’ mantém e estimula a contradição.”

O fragmento citado comporta as alegações aqui expostas e das quais tratamos com extremo alerta, sendo aplicada em locais como o Brasil, Chile, Guiné Bissal, Porto Rico e outras localidades. E em nenhuma delas houve redução significativa das taxas de analfabetismo, mas em compensação, todos os seus aderentes possuíam, desde então, um apreço por todos os partidos de esquerda revolucionária e por todas as doutrinas marxistas à época ostentadas.
O método sócio construtivista à la Antônio Gramsci foi assíduo no método freiriano de revolução cultural. Sempre que quisermos nos lembrar de um método que remeta à prática da “pedagogia do oprimido”, lembremo-nos do círculo que a professora requisitava em sala de aula, para que fossem estabelecidos debates, a fim de formar uma “opinião crítica”, embasada em pesquisas com prazo de uma semana de efetuação.
Que eu saiba, ao se pretender adquirir conhecimento em uma semana para discussões sérias, resulta sempre em falhas no processo de apreensão da informação, necessitando de um educador bem instruído, e não de um colega nas mesmas condições para sanar qualquer dúvida. Que eu saiba, ignorância mesclada à ignorância é fator formador de mais ignorância. Trazendo-nos não a um pensamento crítico, mas a uma crítica já elaborada e transformada em debate, onde não se trocam ideias, mas dúvidas.
Resultante desse processo de imbecilização, tem-se o acréscimo do patrulhamento ideológico nas universidades, principalmente no campus das humanas, como resultado, onde podem se identificados os cacoetes intelectuais repetidos de forma fluente, como resultado dessa “alfabetização” defendida por Freire, chavões marxistas, partidários, unilaterais. Tornando dos estudantes os novos militantes revolucionários, trazidos à tona por uma pedagogia que transfere um conceito completamente errôneo da teoria marxista para as salas de aula, com resultados igualmente inviáveis. Há falhas na sintaxe ideológica primária de Paulo freire.
Ninguém é melhor para explicar o processo gramscista de hegemonização, nas instituições de ensino, que o historiador Paul Johnson, que trata assíduo do marxismo freiriano:

“O professor brasileiro Paulo Freire (...) descobriu que qualquer adulto pode aprender a ler em quarenta horas suas primeiras palavras que conseguir decifrar se estiverem carregadas de significação política; (...) apenas a mobilização de toda a população pode conduzir à cultura popular. As escolas são contraprodutivas (...) O melhor caminho a seguir é um rompimento com a educação institucional rumo à educação popular. O método se baseia no uso de palavras e expressões empregadas conscientemente de forma dúbia e duvidosa, de acordo com o conceito que seu autor tem de ‘educação libertadora’ e que pode ser assim resumido no conhecido jargão esquerdista: ‘(...) há uma incompatibilidade estrutural entre os interesses da classe dominante e a verdade...; a verdade está do lado dos oprimidos e não pode ser conquistada senão na luta contra a classe dominante...; a verdade é revolucionária, não deve ser buscada e sim feita’ ” 
(Paul Johnson, in Inimigos da Sociedade - cit. COUTO, 1984: 39).

Paulo Freire transfere “a verdade da educação” para os “oprimidos”, num conceito taxativo e incerto de “libertação”. Ele toma todos os valores burgueses como os responsáveis pela vil opressão exercida por um sistema cruel de exclusão social. Logo, tente adivinhar qual é o sistema de foque que os esquerdistas mais tencionam em destruir? O capitalismo, obviamente.
Toma-se, com a “libertação” do alunado pela educação freiriana com o seu “opressor”, a repudia pelo sistema, e qual sistema? O próprio “oprimido” não o saberia identificar se não fosse o apontamento dos ideólogos.
Paul Johnson explica mais uma vez: “O avanço do processo revolucionário comunista antes de Março de 1964, na área da educação, foi em grande parte creditado ao uso do Método Paulo Freire, que tem potencial para materializar, com inegável eficiência, aquela afirmativa de Fred Schwarz: ‘O primeiro passo na formação de um comunista é a sua desilusão com o capitalismo’. Hoje, o método e seu autor vêm sendo reabilitados em vários pontos do país, aparentemente com a mesma função revolucionária de antes. A alfabetização que propicia, baseada nas condições reais em que vive o aluno, explora largamente as contradições internas da sociedade para desmoralizar o capitalismo, e através dele a democracia, deixando a porta aberta para a opção socialista”. (COUTO, 1984: 38-9) 
A tática da pedagogia freiriana, não é utilizada somente nos campos universitários e instituições de educação básica, fundamental e média como o grande instrumento civilizacional da cultura. É também fluente na formação da militância de grupos nos quais o caráter marxista é, de forma diáfana, empregado à defesa de seus partidos de esquerda, como o MST. Isso é expresso conforme os dados coletados da Revista Sem Terra:
“De acordo com os ideais socialistas e coletivos, calcados no princípio da solidariedade, o projeto educacional do MST tem como base teórica Paulo Freire, Florestan Fernandes, Che Guevara, o cubano José Martí, o russo A. Makarenko e clássicos como Marx, Engels, Mao Tsé-Tung e Gramsci”. (revista Sem Terra, Out-Nov-Dez 1997, pg. 27).
Ainda não bastando toda a informação aqui coletada, há também depoimentos testemunhos, dos próprios agentes acompanhantes de Paulo Freire e suas metodologias, os quais se isentam do cunho direitista, uma vez que não cabe aqui contrapor uma ideologia a outra, mas sim se contrapor a uma e desestabilizar seus nocivos efeitos. Tais depoimentos podem ser encontrados na Página de John Ohliger, um devoto desiludido de Paulo Freire.
Verifiquemos alguns depoimentos, também retirados do célebre artigo de Olavo de Carvalho, Viva Paulo Freire e de outras fontes.
“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)
“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)
“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha daPedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)
“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)
“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)
“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Associationem Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)
“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)
“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)
Cabe aqui ressalvar mais uma vez que essas críticas não são de cunho direitista por parte de seus emissores, mas de pessoas cuja experimentação com a pedagogia freiriana foi tênue.
Todavia, quem melhor seria representante da educação desejada pelos esquerdistas, senão um país dominado por representantes que ainda sonham com a retomada dos resquícios de um esquecido socialismo inesquecível? Quem melhor seria senão um governo cujo projeto de emparelhamento completo das instituições democráticas procedeu com sucesso? Nada melhor que o patrono de uma horda cujos limites intelectuais alcançam a sexagésima posição no ranking educacional? Nada melhor que uma massa de manobra prepotente e facilmente manipulável, não acredita?
Gabriel Silva Corrêa Lima
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domingo, 12 de junho de 2016

Como o conservadorismo pode auxiliar o meio ambiente?



Tem-se uma polêmica e uma questão que a maioria das pessoas torna-se incógnita e de dificultosa resolução ao tratar do meio ambiente: sua preservação. É bastante complicado compreendermos todas as causas, efeitos e agentes que contribuem para sua destruição e preservação. Culpa-se geralmente as grandes corporações produtoras, a irresponsabilidade de indivíduos descuidados com o seu redor, o material que constitui determinado produto, o consumismo etc.
No entanto, é bastante mais profunda a razão da deterioração dos finitos recursos naturais. E para compreendermos melhor essa problemática, consultaremos o célebre filósofo conservador Roger Scruton, em um de seus livros intitulado Como ser um conservador, no oitavo capítulo: A verdade no ambientalismo.
No título é questionado o porquê de o conservadorismo ser uma corrente de pensamento viável à proteção do meio ambiente. Para determinado entendimento, é necessário que se saiba o que forma o conservador. A sinopse do estimado livro de Scruton, remete-nos à seguinte síntese:
O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida familiar, tudo o que depende da cooperação com os demais, visto não termos meios de obtê-las isoladamente. Em relação a tais coisas, o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante. Esta é uma das lições do século XX. Também é uma razão pela qual os conservadores sofrem desvantagem quando se trata da opinião pública. Sua posição é verdadeira, mas enfadonha; a de seus oponentes é excitante, mas falsa.

Ou seja, a retórica conservadora é o senso de preservação de valores coletivos, deixados pelos mortos, que devem ser valorizados pelos vivos, e herdados da melhor forma possível pelos que ainda irão nascer. Este é um dos principais discursos de Whig Edmund Burke, conservador e contrarrevolucionário. “Acredita-se numa associação entre vizinhos em vez de uma intervenção do Estado” [1].
Então, quem melhor vigente seria para se aliar à causa ambientalista senão a causa conservadora?
No entanto, encontramo-nos hoje em dia com um conservadorismo corrompido pelo viés do capital, por ambições globais de empresas multinacionais e, sobretudo, pela supremacia do pensamento focado somente na economia pelos políticos modernos. Tais fatores têm forçado os conservadores a aderirem a alianças com instituições que consideram fúteis os esforços de conservar as coisas.

A partir disso, é complicado encontrar sujeitos e comunidades dispostas com as causas ambientalistas, sendo que alguns dos ativistas radicais da “linha de pensamento verde” têm obscurecido a causa, pela imensidade de problemas que nos apresentam, e assuntos que jamais poderiam ser resolvidos por nações singularmente, e por instituições privadas, como aquecimento global, o derretimento das calotas polares, a mudança climática etc.
Todos esses agravos encontram-se fora de alcance de qualquer governo nacional, e que nunca fornecem uma solução imediata.
Passando então aos problemas focados pelos conservadores, há um denominado “transferência de custos”, que é uma forma de passar o custo de preservação e reaproveitamento de um produto para outro setor da sociedade. Como no exemplo das garrafas pet de uma empresa X, que não deseja gastar recursos para coletar garrafas dispersas no ambiente urbano e rural, e transfere seus recursos para as empresas de reciclagem e de despejo.

“O meio ambiente é degradado porque externalizamos os custos daquilo que fazemos; e a solução é descobrir os motivos que farão regressar os custos para quem os criou”. [2]

A economia livre é governada pela demanda individual, ou seja, pelos anseios do consumidor. Isso é um aspecto que auxilia no crescimento das corporações (geradoras de emprego e renda estável) e contribui para a externalização de custos. Todavia, a solução não é socialista, que tanto quanto de nociva possui a construção da sociedade e suas tradições valorosas, têm também para o meio ambiente, sendo até mais prejudicial que o livre mercado, uma vez que transfere o imenso poder econômico das empresas a uma série de burocratas, que, além de impedirem o crescimento econômico de um país, também externalizam os custos, enquanto desfrutam dos benefícios seguros fornecidos do produto social (impostos de renda).
A solução é assumirmos nossos custos e encontrar sempre uma maneira de pressionar as grandes empresas a fazerem o mesmo. Mas como?
O sentimento de interesse racional é um agende influente para que isso seja efetuado, no entanto, deparamo-nos sempre com um paradoxo motivado pelo consumismo e autocontrole, algo quase utópico visando à relação individualista ao se garantir o bem estar próprio. E os teóricos do contrato social, como Thomas Hobbes E John Rawls, que tentaram solucionar o problema das escolhas sociais em prol do bem estar coletivo, decaíam sempre com o seguinte empecilho, destacado por Scruton:
“por que é mais sensato ser fiel ao contrato do que fingir que o aceita e executa?” [3].
A solução imediata que se encontra é mais uma vez burocrática, estabelecendo limites e regulações que gerem incentivos para que o indivíduo preserve. No entanto, tal medida retira a própria mobilidade das empresas e civis capacitados em encontrar uma resolução à longo prazo, uma vez que seu desenvolvimento tecnológico é limitado a determinadas exigências locais, que não podem suprir necessidades ambientais globais e de desenvolvimento tecnológico acelerado, gerando um paradoxo, uma complicação.
Outra grande solução falha proposta pelos ambientalistas, que deve ser desconstruída, é a tomada de pactos globais por meio de suas organizações representantes, como Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia (UE) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Como no Protocolo de Kyoto, onde é necessário o reconhecimento, por parte de todos os países envolvidos, da soberania da vontade popular em se ingressar nos projetos de preservação, o que é possível em democracias melhormente consolidadas e quando há os três poderes encontram-se equilibrados em sua delimitação de atuação e poder. O que é o caso dos EUA, ou do Reino Unido, ou França... Mas não é o caso da China, ou Brasil, ou Índia...
Os ambientalistas, ao encorajar a soberania global, enfraquecem a soberania nacional e o sentimento de nacionalismo por barreiras legislativas. Enfraquecendo as únicas fontes de resistência e de onde se pode partir uma resolução viável e de longo prazo para a preservação da natureza, o Estado político, o sentimento de soberania nacional, ou seja, o nacionalismo.
Conferindo a alegação de Scruton de que “Nações são comunidades com uma configuração política. E estão predispostas a afirmar a soberania vertendo o sentimento comum de pertença em decisões coletivas e leis autoimpostas.”[4], compreendemos que a nação é um agende coletivo na esfera de decisões globais, tornando do indivíduo um agente também coletivo na tomada de posição frente a essas decisões. E o sentimento de pertença, de nacionalismo, coletivismo contribuem para o pensamento ecológico, fazendo com que os sujeitos busquem reafirmar a soberania local nos ambientes conhecidos e administrados por eles mesmos. Pensamos enfim o seguinte dilema: “Experimente localmente, pense nacionalmente”.
Trata-se enfim de afirmar a autonomia das nações em tomar decisões na adoção de políticas que atendam às necessidades culturais dos locais de atuação, evitando a imposição generalizada das organizações globais mencionadas, que estabelecem burocracias muitas vezes ineficazes se tomadas de forma tão ampla.
Logo, estimular a atividade dentro dos limites locais ao invés dos globais é uma medida efetiva. E faz-se isso por meio do incentivo ao nacionalismo.
Exemplos concretos onde se procede exatamente como são explicados no texto não nos faltam. Um dos exemplos fornecidos pertence a uma era generalizada como a inconsequência ambiental, o século XIX, quando uma instituição britânica, privada, denominada English National Trust, com cerca de quatro milhões de membros, dedicada a proteger as zonas florestais do processo urbano e industrial e incentivou, por meio do ativismo, a criação de parques florestais no interior dos grandes campos urbanos; as leis de planejamento da Suíça que permitiram com que os povoados estabelecessem suas regras compartilhadas para a preservação do meio ambiente.
           
Cabe também que novas tecnologias e ideias de âmbito privado, estimuladas pelo senso de compartilhamento, coletivistas, contribuem efetivamente para a preservação ambiental por meio da contenção da produção desenfreada de artigos de consumo sob a égide do impulso consumista proporcionado pela obsolescência programada. A tão famosa e reconhecida Economia Colaborativa, que consiste na troca de serviços de produtos de vizinho para vizinho, a fim de atender ao seu serviço somente, e depois os recursos produtivos são novamente compartilhados. Tal recurso consiste em três passos: mercados de redistribuição: ocorre quando um item é transferido de um local onde não é mais necessário para onde o é, baseando-se no princípio de “reduza, reuse, recicle, repare e distribua”; os Lifestyles colaborativos: consiste no compartilhamento de recursos, tais como dinheiro, habilidades e tempo; e os Sistemas de produtos de serviços: quando um consumidor paga pelo benefício do produto, não por ele em si, ou seja, não mais se investe num CD, mas na música contida dentro dele.

Amsterdã, após várias iniciativas de cunho popular e corporativo privado, agentes internos e isentos de uma burocracia taxativa e fatídica, que são estimuladas pelo sentimento coletivo tão compreendido pelo sentimento conservador, sofrei com as revoluções provocadas pela economia colaborativa[5].
"A ideia é transformar Amsterdã em uma cidade colaborativa e utilizar as possibilidades que esta nova modalidade econômica oferece nas áreas de sustentabilidade, coesão social e economia e, por sua vez, formular as respostas aos desafios que este fenômeno apresenta", explicou à Agência Efe o cofundador da iniciativa social SharingNL, Harmen Van Sprang.¹

Todas essas medidas são efetuadas em pequena escala, no entanto, demonstram-se efetivas, e, como é notório, são influentes onde o patrimônio cultural e científico das comunidades alcançou um pleno status de civilização organizada. E ainda que diversas localidades tenham atingido um bem estar considerável para com o meio ambiente, não podemos ignorar que há problemas de ordem global a serem questionados, e como poderíamos fundamentar uma solução eficaz se os acordos transnacionais de ordem global somente fornecem soluções imediatas, que não prologam seus efeitos, por estabelecerem burocracias que se desmancham pela desconexão social, cultural e política com várias regiões?

Conforme verificamos todos os dias em corriqueiros anúncios e notícias, sempre há desenvolvidas novas formas de preservação de determinado recurso exaurível por uma técnica ou máquina, às vezes desenvolvidas por um civil ou um grupo de civis comuns, ou instituições privadas. Essas tecnologias podem suprir a necessidade de acordos internacionais, onde países nos quais as grandes corporações não possuem uma democracia equilibrada, as necessidades contratuais poderiam não ser cumpridas.

O problema não é de ordem diplomática, mas tecnológica. É primordialmente um critério científico, que requereria o investimento e relação de grandes empresas representantes de diversas nações. E logicamente isso ocorreria com comunidades nacionais desenvolvidas e subdesenvolvidas, sendo necessário o estímulo ao livre mercado. E mais uma vez cabe ao sentimento coletivo de um povo determinar quais representantes políticos poderiam aderir mais facilmente à causa.

Cabe então um investimento e empenho político por parte de grandes nações, em pesquisas científicas, e só há uma nação com força política e corporativa suficiente para suportar tamanha tarefa, e essa nação é os Estados Unidos da América. País que se enquadra na recuperação de uma crise, e acaba de ingressar em outra no período de 2016, pelo Obamismo[6].

É complexo o problema de ordem nacional, e mais complexo ainda os fatores de ordem global, que necessitam de condições específicas e empenhos mútuos, de altíssimo relevo e divulgação, por parte dos concidadãos.

O incentivo à lógica burkiana de preservação social, pelo minarquismo, ao incentivo à livre-economia atrelada à iniciativa pública ávida, pode-se alcançar mudanças eficientes, de ordem nacional. A lógica conservadora é a maior aliada do pensamento ambientalista quando se deseja protestar em favor da mãe natureza. Experimente localmente, pense nacionalmente.

Gabriel Silva Corrêa Lima

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Conservadorismo e estética na arte


*Por Gabriel Silva Corrêa Lima


“Em qualquer época entre 1750 e 1930, se você pedisse às pessoas cultas para descrever o objetivo da poesia, da arte ou da música, elas teriam respondido: a Beleza. E se você perguntasse pela razão disso, você aprenderia que a Beleza é um valor, tão importante quanto a Verdade e o Bem.
Depois, no século XX, a beleza deixou de ser importante. A arte, cada vez mais, concentrou-se em perturbar e em quebrar tabus morais. Não era a beleza, mas a originalidade, conseguida por qualquer meio e a qualquer custo moral, que ganhava os prêmios.
Não apenas a arte fez um culto à feiura; a arquitetura também se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso ambiente físico que se tornou feio. Nossa linguagem, nossa música e nossas maneiras estão cada vez mais rudes, egoístas e ofensivas; como se a beleza e o bom gosto não tivessem nenhum lugar real em nossas vidas.  [...]
Eu acho que nós estamos perdendo a beleza e há um risco de que, com isso, nós percamos o sentido da vida.”.

A epígrafe deste artigo é constituída pelas palavras do célebre filósofo conservador Roger Scruton, em um documentário na BBC, intitulado Why The Beauty Matters (Por que a beleza importa), aonde se identifica uma observação a respeito da importância da arte para a nossa rotina, e uma crítica a respeito dos problemas advindos de suas mais recentes transformações. Vê-se que a arte, em suas representações várias, hoje em dia, não se atém mais ao apreço único pelo “belo”, e o que o seria? Seria relativo ou um valor universal para a temática e estética da obra? É essa uma das questões que iremos abordar aqui.

Estou certo de que se você perguntasse para um sujeito do século XIX qual é a importância da poesia, por exemplo, se perguntares para o patriota Olavo Bilac sobre qual seria um dos principais objetivos da poesia, ele decerto dir-lhe-ia que é a “beleza”, ou seja, aquilo que segundo a sua concepção permite-nos a transcendência de uma realidade imaginativa, que nos permitiria escapar do fatídico e realíssimo mundo terreno. Algo como o poema Via-Láctea cumpriria o papel, ou mesmo as Siderações do querido Cisne Negro (Cruz e Sousa), aos meandros sinestésicos do simbolismo, que comporta um genial apreço à musicalidade, e a afeição ao hercúleo trabalho poético.

Podemos falar da maior fluência desse tipo de arte quando decorria no ocidente a valorização pelos valores de tradição, como o cristianismo tão blasonado pelos escritores Românticos, vivendo-o puramente, retomando as características do cristianismo quase medievalista. Esse é um aspecto da escola literária do Romantismo, que nos influenciara em muito com nossos arquétipos psicológicos de poeta e estética textual. Outro exemplo vem da corrente de pensamento literário denominada Sturm und Drung(Tempestade e Ímpeto), que caracterizava o forte apelo emocional e o exagero trágico frente a algumas situações das narrativas literárias, envoltas de um sentimentalismo exacerbado.

A “moral romântica” é algo que valorizava, acima de tudo, o escapismo do homem a uma realidade transcendente, dispondo de uma estética deixada pelos antigos, com dois mil anos de “cristianismo nas costas”. Daí então, pela perspectivação de uma metafísica na arte, tinha-se o universalismo, o ideal, perante o que significaria belo.

Servia então, a arte, como objeto de escape.

No entanto, compreendendo as transformações socioculturais e filosóficas, advindas acima de tudo da crítica do Realismo/Naturalismo, e com o ceticismo positivista de Auguste Comte que visava o progresso científico e cultural longe de uma esfera de pensamento teológico metafísico; aos poucos, parte das escolas artísticas foi perdendo seu papel de “fuga” ou idealização poética de uma realidade transcendente, e se empenhando na quebra de tabus morais, com a finalidade de chocar, comover os interlocutores com base em uma reflexão da realidade por elementos dela mesma. Mas como isso se sucedeu? E quais são suas maiores problemáticas sociais? Afinal, é uma problemática?

A fim de respondermos a essas instigantes questões, atenhamo-nos ao seguinte trecho do documentário:

“Obviamente esse hábito de enfatizar o lado desolador da vida humana não é novo. Desde o início de nossa civilização, tem sido uma das tarefas da arte pegar o que é mais doloroso na condição humana e redimi-lo em uma obra de beleza. A arte tem a habilidade de redimir a vida ao encontrar beleza até nos piores aspectos das coisas.”

Tal excerto retirado do documentário de Scruton nos faz atenuar a importância do ser humano na retratação de seu mal como remédio para saná-lo, assim como também exemplificado pelo dionisíaco, o culto ao bizarro, de Nietzsche em a Origem da Tragédia, que trata o exemplo de Édipo Rei, de Sófocles, na narrativa do que há de mais fatídico e medonho da vida para que se possa escapar e procurar o apolíneo, ou seja, o culto ao belo, ao “bom”, que no caso, é valorado moralmente.
Então, na arte contemplativa escapista e poética, tem-se a supressão de fatores psicológicos agravantes à vivência do homem enquanto ser sociável, fazendo com que ele suporte a existência de forma a amortecer com o escapismo, frente à valorização do belo, ou pelo menos de sua concepção. Tendo então a realidade ideal, seja dionisíaca, ou apolínea.[1]

Portanto, Scruton critica a falta desses fatores nas obras de arte (algumas) atuais, estabelecendo então um critério moral a elas, que só trabalham na quebra dos valores artísticos anteriores somente.

Se queres um exemplo, tome a figura de La fontaine de Marcel Duchamp, onde fora exposto um mictório em uma galeria artística, onde está nele escrito o nome da obra e “Isto é arte” em uma etiqueta próxima.


E o que provocou afinal essa desvalorização de valores metafísicos, permitindo com que exposições como a de um mictório ocorram?

Scruton culpa a então chamada Pragmática, que trata de um relativismo radical, defendido por filósofos pós-modernos como Gilles Deleuze, Felix Guattari, Michel Foucalt, Richard Rorty. E teve seus primeiros ecos com a teoria pessimista de que todos os pontos de vista existentes não fossem nem verdadeiros, nem falsos, mas construídos socialmente conforme as necessidades fisiológicas, geográficas e culturais de um determinado segmento. Isso abstrai qualquer metafísica e nos prende no campo do materialismo cético somente, sem necessidade de escapismo. Não é em vão que os teóricos citados seriam em grande parte marxistas.

Logo, com a relativização da beleza, aniquila-se o campo da necessidade do belo, e não há tratamento dos males psicológicos, mas sim uma quebra de tabus. Ou seja, por positivismo, ceticismo. Que inicialmente fora interessante, mas que com o passar do tempo, tornou-se fatídico.

Como poderia haver um motivo para a produção da arte se não há valores cogitados como viáveis ou inviáveis; morais ou imorais? Simples! Esse é o objetivo! É uma arte sem sentido apenas, o que, logo, que aniquila qualquer possibilidade de debate em relação ao valor da obra.

Percebe-se então certo autoritarismo na Pragmática Relativista, e logo, uma incoerência, pois esta visa o discurso da “tolerância retórica” politicamente correta. Só que os relativistas são os primeiros a censurarem os que os negam. Discordam dos que os indagam, pois não há refutações àquilo que não é certo ou errado, mas relativo, conforme eles.

De acordo com Scruton, em um contexto onde nada é proibido (onde a beleza é relativa), é necessário proibir aquilo que deseja proibir o ato de não proibir nada.

Há um apelo inerente à irracionalidade, tornando a condição humana algo trivial, animalesco; relativizam a arte. Isso permite o surgimento de expressões puramente irracionais e estética e filosoficamente pobres, como uma “centopeia humana”[2].

Scruton torna clara a observação a respeito de trabalhos artísticos descabidos dos princípios morais da beleza:
“Às vezes a intenção é nos chocar, mas o que é chocante na primeira vez é chato e vazio quando repetido. Isso conduz a arte para dentro de uma piada intrincada, que agora deixou de ter graça.”
“A arte criativa não é realizada assim, simplesmente tendo uma ideia. Claro, ideias podem ser interessantes e divertidas, mas isso não justifica a apropriação do rótulo de ‘arte’. Se uma obra de arte não é nada mais que uma ideia, qualquer um pode ser um artista e qualquer objeto pode ser uma obra de arte. Não há mais necessidade de habilidade, gosto ou criatividade.”
“Então, a arte de hoje nos mostra o mundo como ele é, o aqui e agora com todas suas imperfeições; mas o resultado realmente é arte? Certamente uma coisa não é uma obra de arte somente porque mostra um pedaço da realidade (a feiura incluída) e se auto intitula de ‘arte’. A arte precisa de criatividade, e criatividade é sobre compartilhar, é um chamado para que os outros vejam o mundo como o artista o vê.”

Segundo Roger Scruton, também, a arquitetura quotidiana sofreu com os ditames da utilidade prática sem reflexão por seus elementos estéticos que viabilizem uma beleza. Compara-se a arte arquitetônica de Antoni Galdi, famoso arquiteto catalão espanhol, que se dedicara em curvas e uma estrutura inovadora, e as obras modernas de arquitetura urbanista do quotidiano[3], “desprovidas de vida”, quadrados, triângulos...

Os danos sociais então, é que com o relativismo na arte, e na praticidade isenta da beleza estética na arquitetura, não há mais tanta admiração e “cura psicológica” frente às mágoas e alegrias da existência, e retém-se tudo em uma banalidade de materialismos mutáveis, instáveis, que caminham junto ao modismo ou à praticidade somente. Detém-nos num mundo onde o ter e o chocar é mais valoroso que ser e sentir.
Gabriel Silva Corrêa Lima



[1] Não seria conveniente expor aqui a referência a Nietzsche sem incisiva crítica do maior conservador brasileiro em atuação, Olavo de Carvalho: http://www.olavodecarvalho.org/semana/02152003globo.htm
[3] Salvo as inovações efetuadas com a instrumentação moderna, como as obras de Dubai.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Críticas ao AnarcoCapitalismo

Muitos vem criticando o Anarcocapitalismo devido a primeiras impressões equivocadas ou preconceitos em relação ao liberalismo e anarquismo bem como suas correntes de pensamento derivadas. Aqui criticaremos com argumentos conservadores os pilares que os anarcocapitalistas usualmente emergem, ou seja, sua base filosófica que guia posicionamentos políticos, econômicos e jurídicos. O objetivo desse artigo é somente relatar, criticar e propor a reflexão ao leitor - a conversão se mostrará voluntária para qualquer lado.
O Anarcocapitalismo parte sempre do indivíduo para diferir o que é certo ou errado em qualquer âmbito, percebendo a verdade do ambiente no qual o ser humano vive com base na razão. A filosofia, por sua vez, tenta compreender a realidade a partir da reflexão que não necessariamente se aproxima do entendimento do próximo, tendo que haver acordos (podem interpretar como contrato) de ambas as partes para o convívio saudável. Se uma pessoa necessita da cooperação do próximo, sendo que o princípio de não agressão precisa ser um valor mútuo, o capitalismo surge advindo das trocas voluntárias em nome do benefício de todas as partes e respeito incondicional à propriedade privada. Portanto a sociedade se desenvolverá assim sem a intervenção de uma entidade como, principalmente, o Estado. Esse conjunto de condições não podem ser violados, fazendo alusão a uma utopia por conta da ingenuidade da maldade humana.
Immanuel Kant
A fragilidade desta base filosófica vem de Immanuel Kant, ele dizia que as ações humanas deveriam ter algum fundamento que pudesse ser compartilhado por todos, independente de suas visões de mundo particulares, indicando que a razão seria prática, autolegisladora e universal. Kant considerou como ponto de partida para sua teoria moral a ideia de que somos seres racionais, dignos, livres e vivenciando perene o conflito entre o dever e as inclinações. E, neste ponto, afastou-se a tese aristotélica da felicidade, bem como o fundamento do utilitarismo de Jeremy Bentham, seu coetâneo (KANT, 1785). A moral, segundo o filósofo, se justifica no respeito à dignidade da pessoa como fim em si mesma (SANDEL, 2011). Logo, não devem ser considerados elementos estranhos à dignidade tais como: posição social e econômica, beleza física, dentre outros - será que isso poderia acontecer? Os ensinamentos de Kant são usualmente refletidos nos argumentos dos anarcocapitalistas, porém como o transcendentalismo da ética do dever pode se manifestar entre todos os seres humanos?

Um pilar fundamental de qualquer anarquismo é a educação padronizada e bem utilizada dentre todos os membros de uma sociedade sem a necessidade de hierarquias sociais, cada um seria autônomo no sentido de identificar e realizar bem a sua posição social. Um professor, por exemplo, não poderia ensinar nada que não fosse previamente estabelecido pela coletividade ou que não fosse de interesse do aluno, comprometendo então a ordem natural anárquica se uma vez não houvesse respeito à razão durante o fluxo de aprendizado. O que faríamos se alguém não conseguisse viver em sociedade? Seria moral o afastamento de um indivíduo do anarquismo se ele fosse considerado uma propriedade e não cumprisse com a sua função?
Sem maiores confusões sobre ética, a palavra moral decorre do latim mos, mores que também significa maneira de se comportar regulada pelo uso, ou seja, costumes (ARANHA; MARTINS, 2014). A ética estuda ou pode se classificar como fatos morais locais, atos que influenciam na vida das outras pessoas de uma comunidade. Já que vivemos em uma sociedade alheia ao ambiente hostil, é histórica a necessidade do ser humano em se agrupar em grupos sociais, afirmando a tese de Aristóteles sobre o animal político, pois ele necessita de segurança de acordo com a clássica Pirâmide das necessidades de Maslow.
Stuart Mill
O pensamento utilitarista poderia supor que devemos analisar as consequências dos atos a serem julgadas pelas leis rígidas do ambiente, ficando livres de relativizações que beneficiariam injustamente alguém, não importando a legitimidade dos agentes envolvidos, ou seja, as intenções explícitas ou implícitas. O argumento referido pressupõe de uma moral objetiva, um conjunto de costumes culturais que divergem o certo do errado, sendo a ética uma ferramenta filosófica para sua investigação eterna em nome do seu constante aprimoramento. Ou seja, ações coercivas somente ocorrerão se forem provados atos ilícitos anteriormente, tendo sua punição proporcional - surgindo o primeiro serviço do Estado: não impunidade.
entendedores entenderão
Ao juntarmos a lógica deste artigo com a linha de raciocínio defendida em "O Estado e seus intelectuais", os costumes e experiências criam a moral e a cultura (conjunto de fatos morais) no longo prazo por si só, emergindo o Estado de maneira espontânea para prover serviços fundamentais à sobrevivência dos seu(s) grupo(s) social(is) nos quais se agruparam voluntariamente (certo) ou coercitivamente (errado), em ambas maneiras é necessária a arrecadação econômica; para a sobrevivência da nação. O governo, em contrapartida, é um grupo de representantes diretos ou indiretos de toda a população que deveria realizar serviços à ela, havendo uma separação entre as Instituições e os membros que as ocupam, configurando-se, por fim, o Estado e o governo respectivamente.

O princípio universal de não agressão, quaisquer que sejam estas, não se sustenta a partir do momento em que o indivíduo pode violar leis naturais para conseguir o que deseja, não obstante o Estado seria o agente responsável pela justiça por reconhecer em sua República tais leis. Todavia o jusnaturalismo, advindo da filosofia Kantiana, é ingênuo no sentido que "o direito é independente da vontade humana", porque ninguém seria obrigado a defendê-los, vigiá-los, aprimorá-los ou garanti-los por contrato se não houvesse o governo. Caso seja privado, defenderá apenas uma propriedade que estaria alheia à guerra de possíveis inimigos.

O governo pode ser imoral, o Estado não. Se o objetivo do segundo é garantir sua própria sobrevivência, o lucro ou o abuso de poder dos governantes são imorais tanto quanto o não cumprimento das leis por parte do indivíduo cidadão. A política gosta de dissimular os fatos e definições da realidade, mas os serviços públicos não correspondem (ou deveriam corresponder) a clientes diretos como, por exemplo, a defesa das fronteiras contra uma nação inimiga.

O Estado jamais será um indivíduo ou um grupo de representantes, mas sim todos os grupos sociais que são representados por Instituições. O Estado não é eterno porque a sociedade não é eterna, ela se adapta conforme o sistema econômico capitalista. Na concepção de sociedade utilitarista, cada indivíduo poderia fazer o que quisesse desde que não interferisse na felicidade do outro, feito a liberdade.

Os maiores defensores do AnarcoCapitalismo são jovens que reinterpretam obras de determinados autores para se sentir bem na sua busca por pureza rápida. Devo alertar sobre a capacidade que a esquerda possui em relativizar a verdade como bem relatamos semanalmente na página do Movimento Indolista. Por favor, compreendam os argumentos aqui abordados na próxima vez que tentarem criticar um conservador. Não estou impondo ninguém a aderir à lógica.

Obs.: Não sou dono da razão, por favor procurem saber e refletir sobre o texto. Não citei todas as fontes, nem perderei mais tempo aqui citando-as.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O fascismo da Ideologia de Gênero e Ana Paula


Parece-nos que a revolução cultural subliminar, tal como é pregado pelo gramscismo, é realmente efetiva onde num país há um desequilíbrio ideológico-partidário exorbitante no cenário congressista e a população encontra-se em estado de bipolarização e confusão política sem precedentes em nosso século. São vistas todos os dias, em nossos cotidianos, tentativa de incutir, a todo custo, uma relativização de valores sob o pretexto do politicamente correto, sempre infestado de um ataque às tradições judaico-cristãs que nos formam, sempre disfarçado de multiculturalismo.

Prega uma ramificação do marxismo cultural, a ideologia de gênero, um ideário relativista em relação à sexualidade, desafiando todas as normas e signos da lógica de formação familiar e psicológica, compreendendo que o “gênero”, seria mero feito da “construção social”, ou seja, a família, as instituições de ensino e demais comunidades, obrigam os sujeitos a serem meninos e meninas, fazendo com que eles estabeleçam no decorrer de sua vida, um papel exigido pela sociedade, e não pelos seus genes. Essa ideia investe numa tentativa de igualdade dos sexos, fazendo com que cada indivíduo identifique-se com o que bem desejar. Como se uma criança e um adolescente compreendessem bem o que desejam de forma independente e sem influência ou auxílio das famílias tradicionais, que não comportam a ideologia de gênero em sua rotina - principal razão pela qual ela é incessantemente tentada nas escolas, um ambiente distante dos pais.

Como defende Roger Scruton em um célebre artigo intitulado “Refutando o radicalismo feminista e a ideologia de gênero”[1], utilizando de uma argumentação também defendida pelo antropólogo Lionel Tiger, de que as condições dos sujeitos de sexos opostos em sociedade não seriam determinadas pelas comunidades, mas sim por uma questão genética e plausível dentro do contexto evolutivo:

“ [...] em vez disso, os milhões de anos de evolução que formaram a nossa espécie fizeram-nos o que somos. Você pode fazer os homens fingirem ser menos dominantes e menos agressivos, você pode fazer com que eles finjam aceitar um papel submisso na vida doméstica e uma posição de dependência na sociedade. Mas, no fundo, no fluxo da vida instintiva que é a masculinidade em si, eles irão revoltar-se. A infelicidade dos homens, Tiger argumenta, vem deste profundo e inconfessado conflito entre faz-de-conta social e necessidade sexual. E quando a masculinidade finalmente explodir – como inevitavelmente acontecerá – será em formas distorcidas e perigosas, como as gangues de criminosos da cidade moderna ou a misoginia arrogante do malandro urbano.”

Este trecho é plausível de grande credibilidade por tratar também a questão da crise de identidade que sofreriam as vítimas agredidas pela igualdade de gênero. Devido a uma supressão de suas faculdades naturais, os “homens” teriam de suprir uma necessidade natural em atividades que lhes despontassem em uma autoridade forçada (um outro proveito dos divulgadores da ideologia: o aproveitamento de uma massa revoltada com um “sistema” inconcluso). Portanto, tal ideologia somente agrega mais problemas que soluções à nossa educação e desenvolvimento enquanto seres ocidentais. É nativamente defendida sempre para que a engenharia social de controle político seja algo possível.
Fascismo é igualdade! Mas não igualdade alcançada por meio da concessão de oportunidades e esforços independentes, mas sim de uma regulamentação estabelecida por alguma entidade de maior porte que deseja formar arquétipos de seres ao seu uso maquinal. A ideologia de gênero, tentada sob todas as formas de ser infiltrada nos veículos de comunicação e métodos de ensino, é uma vertente do Fascismo.

Como se já não bastasse que o politicamente correto tivesse se impregnado na mentalidade de uma parcela significativa da população brasileira, há sempre a questão a respeito da divulgação ou proibição da ideia. Ela várias vezes tem sido abordada em comerciais, filmes etc..
Uma propaganda atual não fez diferente, algo do comércio de vestuários da C&A. Em que se mostram homens e mulheres, naturalmente, experimentando um vestuário que não são esteticamente adaptados aos seus respectivos gêneros[2], com o slogan “Misture, Ouse e Divirta-se”, estabelecendo um padrão de igualdade entre os sexos, e mais uma vez incutindo o fator da ideologia de gênero, nocivo à formação familiar e de identidade.

Todavia, é certo que grande parte da população brasileira, hegemonicamente cristã e com valores sólidos e seculares, não compreenderia a mensagem (com razão) com bons olhos, sendo motivo para o aparecimento de ícones como a cantora gospel Ana Paula Valadão,[3] criticando o roteiro e a mensagem principal. E, como famosa representante cristã da arte gospel, mostrou-se incisiva e implacável em suas investidas. No entanto, como já mencionado repetidamente, que está impregnada a questão do politicamente correto engajado, havendo uma inversão de valores, maus interlocutores compreenderam como uma crítica ao vestuário, como se fosse um ataque discursivo à estilística das roupas. Beira o absurdo o analfabetismo semântico com o qual os brasileiros visam os textos do cotidiano, fruto sempre da velha e letárgica doutrinação marxista.


Gabriel Silva Corrêa Lima